Quando uma folha cai da árvore, rodopiando ao sabor do vento, ela não cai de forma aleatória, embora assim pareça aos nossos olhos destreinados.
Cada movimento, cada impulso, cada vibração é nada mais que o resultado das leis da mecânica, da inércia, da gravitação, do eletromagnetismo e das forças nucleares.
E da mesma forma como uma folha tem seu destino escrito por tais leis, assim também somos nós, em nossa vida diária, sobre a qual julgamos ter pleno controle.
Somos folhas caducas que acreditam ter o poder de escolher onde cair.
Mas tal poder é nada, senão ilusão.
Não somos uma exceção no universo. Seguimos as mesmas leis da folha que cai.
Onde, pois, reside o tal do livre-arbítrio?
Seria o livre-arbítrio um embuste disfarçado de liberdade?
E se nossa vontade é mera ilusão, deveriamos então deixar que o universo nos conduza? Deveríamos viver como sugere Zeca Pagodinho, com o refrão de "deixa a vida me levar, vida leva eu"?
Ora! Uma novela é uma ilusão. Uma ficção. Uma não-realidade. Mas a novela tem sua própria história. Uma ilusão dentro de outra.
Eis, pois, que é na administração de nossa ilusão que reside o livre-arbítrio.
Somos sim uma folha caducante, deslizando ao sabor do vento. Somos um barco à deriva ao sabor da maresia.
Mas poderia um marinheiro em um barco à deriva se sentir inútil se seu barco fosse suficientemente grande e provido de ilimitados recursos?
Não é a mente um grande barco à deriva em um oceano de leis indomáveis?
Tornemos, pois, grandes as nossas mentes.
Cultivemos grandes relacionamentos, grandes vivências, grandes realizações. Eis o que sobrepuja a própria ilusão de liberdade.
Desculpe se viajei demais.
Um abraço!
Everton Spolaor