Imagine cinco cidades: A, B, C, D e E.
Imagine também um carro que sai da cidade A, passa pela cidade B, depois pela C e assim sucessivamente. A noção de movimento ficou bem clara neste exemplo, certo? É fácil verificar que existe um fluxo aqui.
Agora imagine cinco momentos subsequentes: A, B, C, D e, adivinhe só, E.
Imagine que são cinco instantes imediatos. Por exemplo, o instante B ocorre um milésimo de segundo depois do instante A. O instante C ocorre um milésimo de segundo depois do instante B, e assim sucessivamente. Imagine também que você está no instante B. Oras, se você está no momento B, isso significa que o instante A já é coisa do passado, e que os demais instantes são eventos do futuro. Então, Assim, estamos analisano um evento que começou no instante A, passou pelo instante B (onde você está agora) e está "indo" para o instante C, depois "irá" para o D, e assim por diante. A princípio temos a impressão de que há algo se movendo, de que o momento presente está se movendo entre os instantes. Mas vamos pensar melhor.
A nossa
consciência existe somente no momento presente. Assim sendo, nossa consciência só existe no "agora", no instante B deste exemplo. Mas para um observador que
estivesse no instante "A", o momento presente seria "A", não "B". Entendeu? Não? Então vamos voltar ao exemplo do carro para entendermos melhor.
Imagine que o carro está na cidade B. Tudo bem? Se o carro está na cidade B, então um observador na cidade A dirá que o carro está na cidade B, certo? Já um observador que estiver na cidade B dirá que o carro está na cidade B. Um observador que estiver na cidade C dirá, também, que o carro está na cidade B. Um observador que estiver na cidade D dirá, também, que o carro está na cidade B. Enfim, todos os observadores dirão que o carro está na cidade B.
Mas veja agora o que acontece quando olhamos para o suposto movimento do tempo, ao invés de olharmos para o movimento do carro. Se estamos no instante B, um observador no instante B diria que o presente é o momento B. Até aqui, tudo certo. Mas agora considere o que acontece com um observador que esteja em outros pontos. Um observador que estiver no instante A dirá que o momento presente é o momento A, e não o B, porque para ele, o B é um evento futuro. Um observador no instante C diria que o momento presente é o momento C, e assim sucessivamente. Não existe nada se movendo. Cadê o conceito de fluxo do tempo? Simplesmente não existe. Para que a idéia de fluxo do tempo fizesse algum sentido, este fluxo deveria ser relativo a algum ponto de referência externo. Este ponto externo, porém, precisaria ter outro ponto de referência mais externo ainda, e assim sucessivamente em infinitas repetições. Então, esse negócio de fluxo do tempo, como eu disse, só existe na nossa imaginação.
Faz muito mais sentido pensarmos em universos paralelos, ou em um multiverso, no qual existem vários "agoras". Quando a gente pensa em um multiverso, e não em uma linha infinita de tempo, até passa pela nossa cabeça que talvez exista uma explicação racional para estes casos esquisitos de pessoas que sonham com algo que realmente vem a acontecer dias depois. Mas para discernir sobre isso eu precisaria de mais tempo, coisa que agora não tenho muito sobrando.
Um abraço!
Everton Spolaor