Por duas ou três vezes tentei (juro que tentei) mudar o cardápio sonoro, introduzindo uma discussão menos infantil, mas assim que me afastei dos temas fúteis imediatamente percebi uma inexprimível expressão de tédio no semblante dos imberbes espécimes ao meu redor. Parecia até que lhes tinham removido os pratos e os substituído por uma sopa de lagartixa frita.
Tentei introduzir Astronomia, comentando sobre uma descoberta recente. Inútil. Tentei introduzir uma discussão sobre qual é a essência do ser humano... silêncio. Tentei introduzir algo mais leve, falar sobre arte, pinturas, paladares... em vão. Acabaram falando sobre o programa da Hebe. Desisti.
Sinceramente, há tempos deixei de participar de encontros com pessoas de mente pouco cultivada.
Mas desisti de participar de encontros com pessoas pouco cultivadas porque, invariavelmente, a estreiteza de suas ideias e total inexpressividade de suas leituras me deixam com sono ou irritado. Com tanto assunto que se pode abordar, chega a ser uma aberração da natureza existir alguém que em todos os encontros só sabe falar sobre futebol ou sobre as porcarias que viram no Fantástico.
Não que eu me sinta superior ou mais importante que estes conhecidos. De forma alguma! Não é nada disso. Tanto eles quanto eu temos exatamente a mesma importância e o mesmo valor. A única diferença entre eu e eles é que prefiro mais livros que eles (e desculpem-me aqui por formular uma frase de duplo sentido, hehehe!). Como já disse diversas vezes, o verdadeiro valor de uma pessoa não está em seu grau cultural, nem em seu cargo ou em seu salário. O verdadeiro valor de um homem está no quanto o mundo melhorou por ele ter vivido.
É certo que, por menor que seja a cultura de uma pessoa, sempre é possível aprender algo com ela. É certo, também, que de algumas pessoas emana uma simpatia tal que nos é muito agradável compartilhar uma conversação, mesmo que de teor fútil. E é certo, ainda, que eu mesmo costumo dizer muita bobagem e muita futilidade. Afinal de contas, vim ao mundo para viver, não para imitar uma enciclopédia com pernas ou para permanecer em constantes devaneios pseudofilosóficos, como uma mariposa que fica rodopiando inutilmente na lamparina.
Agora, se é para ficar conversando com uma gente sem sal, sobre assuntos insípidos e inodoros, prefiro ficar sozinho e deglutir meus próprios pensamentos. Pode até ser que estes pensamentos sejam desagradáveis para algumas pessoas, mas antes ter um sabor exótico que não ter sabor algum.
Grande abraço a todos.
Everton Spolaor - Autor do livro "Inteligência: caminhos para a plenitude"
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